sexta-feira, 2 de maio de 2008

REFLEXÃO pedagógica


São muitas as questões que precisam ser objetos de nossa reflexão, diante do que temos vivenciado na escola. Embora nosso projeto pedagógico tenha sido construído sob a ótica da disseminação dos valores humanos mais profundos e necessários à convivência social e à própria construção da liberdade individual e coletiva, que é direito de todo cidadão, sentimo-nos cada vez mais distantes delas.

A ênfase à necessidade de consolidar conhecimentos científicos (noções, conceitos, fatos e dados) parece sobrepujar o necessário trabalho de cultivar valores que, uma vez presentes nas relações estabelecidas em sala de aula, podem se tornar importantes alavancas na inclusão de alunos resistentes. Essa afirmação se apóia em diferentes estudos, cujas conclusões apontam para o fato de que os elos afetivos entre adultos que ensinam e pessoas que aprendem, sejam elas crianças, adolescentes ou igualmente adultos, são fundamentais para promover uma relação mais saudável entre os participantes. Dessa relação resulta o necessário reconhecimento dos papéis que são desempenhados pelos diferentes atores dessa situação – a aula -, na qual, sem dúvida, existe o da autoridade do professor no exercício de sua profissão.Diante da realidade, não temos como negar que, de forma inerente à nossa situação de “trabalhadores sociais” (assim como os médicos e os advogados, entre outros), temos nos deparado com o “sofrimento social” que caracteriza o momento histórico da humanidade (de forma ampliada, em nosso país, haja vista a grande desigualdade social que nele existe).

Entretanto, a educação sempre, em todos os momentos, sofreu e sofrerá as influências das mazelas sociais e dos desmandos políticos, já que é uma instituição criada para servir à sociedade e por ela é mantida.Sempre coube aos educadores a tarefa de criar, com auxílio de outras instituições, os arranjos e alternativas pedagógicas para cada momento histórico. Influenciada por ideologias, idéias e paradigmas, a escola sempre construiu formas de difundir o conhecimento sistematizado, além de consolidar, junto à sociedade, os valores humanos necessários às suas demandas.

Dos valores morais, aos políticos e religiosos, chegamos a uma era em que se faz extremamente necessário resgatar a paz, a solidariedade e a igualdade entre os seres humanos. Chegamos a mais um momento crítico, e por certo não será o último, quando temos que reavaliar, rever, reinventar intenções e práticas, pois disso depende a continuidade de um trabalho social da mais alta relevância.

Como conciliar a tarefa de disseminar os conhecimentos e preparar as novas gerações para deles se utilizarem na solução dos problemas humanos (quer sejam de natureza física ou social) com a tarefa de cultivar, nessas mesmas pessoas, valores e sentimentos cada vez menos significativos numa sociedade que cultua a materialidade e o prazer imediato, em detrimento da espiritualidade e das afeições duradouras?

Este é o desafio que se coloca aos educadores da contemporaneidade.Somos parte disso? Ou vamos ficar à margem, assistindo e dizendo longas e desgastadas falas sobre como os jovens não têm mais respeito pelas instituições; sobre como as famílias têm relegado a tarefa de educar; como o governo tem esquecido dos profissionais da educação e priorizado outros setores...Vamos ficar paralisados ou exercer nossa autoridade como construtores sociais, profissionais e cidadãos?

E creio que essa autoridade não está na fala semelhante à do jovem que não consegue ver sentido em uma escola que não responde às suas angústias e necessidades vitais; ela não está no enfrentamento de igual para igual com nossos alunos, quando nos deparamos com as diferentes formas de expressar o sofrimento social, inclusive as violentas e preconceituosas.

A autoridade está sim, em nosso ânimo para ensinar e acompanhar a aprendizagem de nossos alunos, estando entre eles, parceiros deles. Valorizando o conhecimento que estamos distribuindo, acreditando na importância de cada conceito, de cada informação. Isto significa que o como estamos ensinando tem cada vez maior importância. Tem que ser enfático, entusiástico, movimentado... Se o aluno sente que o professor crê e professa aquilo que crê, certamente irá também crer na validade e na função do conhecimento e, ao se apropriar dele, produzir outros.

Reconheço que estamos num momento muito difícil, mas não acredito que esgotamos todas as nossas possibilidades. Ainda há muito que podemos fazer individual e coletivamente. É muito cedo para entregar os pontos e apenas lastimar.

A situação exige que cada um reflita. E exige que sejamos absolutamente sinceros, reconhecendo as próprias falhas e avaliando de que forma ainda é possível colaborar, no plano individual, para melhorar o trabalho coletivo. É necessário também que conversemos sobre tudo isto de forma profissional, sem nos deixarmos envolver pelas nossas divergências ou convergências pessoais.

Cada um de nós, ao ingressar na carreira, declarou sua crença na educação e se colocou a serviço dela. Ao longo do caminho, todos, indistintamente, temos o direito de rever essa opção. O direito que não temos é, no momento em que deixamos de acreditar, por qualquer que seja o motivo, nos tornarmos apenas ocupantes de cargos e funções no serviço público, recebedores de salários, qüinqüênios e bônus, usufruindo de licenças prêmios e faltas médicas (nem sempre verdadeiras) e “dadores” de aulas, sem nenhum planejamento e baseadas em cópias dos livros didáticos. E fazendo isto, ainda discursarmos colocando a culpa pela falta de interesse do aluno na Progressão Continuada e na família.

Somos bastante competentes e inteligentes para fazer mais que isso. Até porque se queremos viver nosso futuro de forma mais tranqüila; se desejamos uma sociedade mais justa, solidária e menos violenta (este tem sido nosso discurso!) temos que educar os que serão adultos nos próximos dez, vinte anos.

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